
Seu pai, Eduvirge Monteiro, era dentista apenas pela prática.
Poucos dias depois de montar seu consultório, na própria sala do seu pai, apareceu o primeiro cliente. Veio lá do Turvinho. Caboclo forte e bravo, mas gemia de dor de dente. Ressabiado, sentou-se na cadeira novinha, cheia de etecéra e tal, como dizia o Cassiano Vieira. Logo perguntou:
--- Seo Eduvirge já vem?
--- Não, senhor. Estou no lugar dele. Sou seu filho.
--- Ai, ai, ai... Óia bem o que o senhor vai fazer!
--- Acabei de me formar em Sorocaba. Cirurgião dentista.
--- Óia!!
--- Fique tranquilo. Conheço muito bem meu ofício.
--- Óia!!!
--- Abra a boca, por favor!
--- Óia!!!
--- Nossa! Esse dente não tem mais jeito. Só mesmo uma extração.
--- Óia!!!
Em pouco tempo, Ademar Monteiro preparou a anestesia, aplicou a injeção, esperou um pouquinho, apanhou o boticão, fez a extração num arranco só e, orgulhoso, apresentou o dente ao seu primeiro cliente:
--- Prontinho. Taí o danado.
Surpreso com tamanha rapidez, o caboclo ficou de boca aberta um bom tempo, antes de perguntar desconfiado:
--- Mas esse dente é meu?
--- Era. Agora vai pro lixo.
--- E quanto ficou o serviço?
--- Cinco mil réis!!!
O caboclo saltou furioso da cadeira:
--- Cinco mil réis? Ah, não pago. De jeito nenhum.
--- Mas, por que?
--- Porque da última vez que arranquei um dente com seu pai, eu e ele lutamos mais de uma hora, caí da cadeira, rolei no chão, ele não largava o alicate, eu não largava o braço dele, eu gemia de cá, ele bufava de lá, viramos até a bacia dágua. Uma peleja e tanto. Sabe quanto ele cobrou? Um mil réis. E agora vem você cobrar cinco mil réis sem fazer força nenhuma e sem doer nada? Não pago.
Cada uma! Os 4 mil réis seriam por não ter tido a dor, mas pelo jeito...
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