segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CENTENÁRIO DE PADRE CHICO: DIA 29 DE AGOSTO . ANO 1. NÚMERO 31


1.
Assim era Francisco Ribeiro, o padre Chico:
Domingo.
Missa das onze e meia. Era um tempo em que se rezava missa às onze e meia. Tempo, também, em que havia jogos do Campeonato Paulista no mesmo horário.

Padre Chico dizia brincando que a batina preta e a bata branca eram seu uniforme de corintiano. Ele estava no altar, ansioso. O Corintians e o São Paulo jogavam no Pacaembu e ele deixara um rádio ligado bem baixinho na sacristia. Queria ouvir lá do altar a transmissão do jogo, pela Rádio Record. O locutor Geraldo José de Almeida anunciou:
--- Vai começar a partida!!! Apita o juiz!!!
Padre Chico no altar:
--- In nómine Patris et Filli et Spirictus Sancti!
Um ouvido para Deus, outro para o rádio na sacristia:
--- Baltazar passa para Luisinho, que atrasa para Roberto, na intermediária! A torcida do Corintians toma a maior parte do Pacaembu!
Padre Chico no altar:
--- Amén!!!
Rádio na sacristia:
---Cláudio avança pela direita, passa pelo zagueiro Noronha do São Paulo! Baltazar, o Cabecinha de Ouro, espera o cruzamento!
Padre Chico no altar:
--- Gratia Dómini nostri Jesu Christi!
Rádio na sacristia:
--- Baltazar mata no peito, baixa na terra ...
Padre Chico no altar:
--- Jesu Christi!!!
Rádio na sacristia:
--- E chuta para fora! Perde gol feito!
Padre Chico, no altar, bate no peito:
---Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!
Rádio na sacristia:
--- São Paulo no contra-ataque!
Padre Chico no altar:
--- Oremus!!!
Rádio na sacristia:
--- Bauer estica na esquerda para Teixeirinha! Defesa do Corintians aberta!
Padre Chico no altar:
--- Oremus!!! Oremus!!!
Rádio na sacristia:
--- Idário salva o Corintians e manda a bola para escanteio!
Padre Chico no altar:
--- Glória!!! Glória!!! Glória in excelsis Deo!
Rádio na Sacristia:
---Sensacional! Sensacional! Ataque fulminante do Corintians, cabeçada de Baltazar e goooollll!!! Salta o Cabecinha, 1 a 0 no placar!!!
Padre Chico se esquece que está no altar:
---Gol!!! ( E disfarça em seguida: Golus!!! Golus!!! Sanctus! Sanctus! Dóminus Deus! Jesu Christi!!!)
Conego Francisco Ribeiro. Padre Chico. Dia 29 de agosto vai ser comemorado o centenário de seu nascimento. Ele veio de Sorocaba em 1.947 e virou um são-miguelense de coração generoso. Só para lembrar: o dinheiro que recebeu de uma herança da família ele doou para a Santa Casa.
E quando a Santa Casa passou por dificuldades, leiloou seu anel de conego, feito de ouro e marfim, em benefício da instituição. Antes de padre Chico, os mortos de famílias pobres eram levados em redes até o cemitério. Alguns caíam pelo caminho. Padre Chico passou a doar caixões e as redes dos pobres ficaram em casa para vivo dormir. O ginásio de São Miguel Arcanjo tem uma boa mão de padre Chico. Enfim, como diz meu amigo Orlando Leme Pinheiro, padre Chico, mais do que tudo, era um dos nossos. Está lá em cima, no time de São Jorge. E como são-paulino, eu posso dizer, que ele é o único corintiano que foi pro céu. O resto continua no purgatório.


2.
Padre Chico no confessionário:
--- Muito bem, meu filho. Você não cometeu nenhum pecado. Deus o abençoe. Mas, me diga uma coisa: pra que time você torce?
--- Palmeiras.
--- Ah, meu filho, que pecado!!! Ajoelhe-se em frente do altar, reze cinco Ave-Maria e que Deus o perdoe.
3.

Dona Elvira era a cantora de voz mais ardida no coro da Igreja que Padre Chico organizou assim que chegou à paróquia. Ele não aguentava mais , tinha arrepios, mas se dispensasse dona Elvira, ela ficaria ofendida, o marido também. Deu um jeito assim:
--- Dona Elvira, de hoje em diante a senhora canta de boca fechada.
Todo o coro cantava de boca aberta: Ave, Ave, Ave Maria.
E dona Elvira: Hum, Hum, Hum, Hum, Hum, Hum.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

SEMANA DA ESCURIDÃO. DE 13 A 20 DE AGOSTO. ANO 1. NÚMERO 30


Uma entrevista exclusiva com Tapichi, o eterno mendigo de São Miguel Arcanjo (às vezes ele aparece).

--- Qual o grande mal de Brasilia, Tapichi?

--- A falta de gato. Onde falta gato, os ratos fazem a festa.

--- Você tem esperança que alguém do bem apareça algum dia por lá, Tapichi?

--- Nenhuma esperança. Em Brasilia, quem chega como passarinho fica aliado de morcego e acaba dormindo de ponta cabeça. O que eu quero dizer, e que São Miguel Arcanjo me perdoe, é que faz tempo que as moscas mudam, mas a bosta continua a mesma.

***

--- Se não tem solução, por que os políticos brigam tanto, Tapichi?
--- É que boca de político só fecha com terra de cemitério. A boca e o bolso. Nós vivemos num país em que a eleição faz o ladrão.
--- Uma coisa me incomoda, Tapichi: porque deputados e senadores sempre dão as costas para quem está falando?
--- Porque é de costas que jacaré nada no lugar onde tem piranha.
--- E nós, os eleitores, Tapichi?
--- Vocês são cegos. E em terra de cegos quem tem um olho é ladrão.


***
--- E essa história da presidência do Senado? O homem cai ou não cai? Você não acredita, Tapichi, que água mole em pedra dura tanto bate até que fura?
--- Não. Eu só acredito que macaco esperto com o rabo preso não mexe no rabo do outro e nem adianta jogar água nele.


***


--- Do jeito que está, qual seria o melhor lugar para os políticos, Tapichi?

--- O galinheiro.

--- Galinheiro?

--- É que de grão em grão eles enchem o papo.


***
--- Eu soube, Tapichi, que um de nossos senadores anda querendo extrair um dente torto.
--- Dente que nasce torto, não tem jeito, morre torto. Eu preferia que em vez do dente, ele extraisse os parentes.

sábado, 1 de agosto de 2009

SEMANA DA SABEDORIA. DE 6 A 13 DE AGOSTO. ANO 1. NÚMERO 29

Tantas coisas a gente pode aprender no silêncio de Tapichi, o eterno mendigo de São Miguel Arcanjo (às vezes, ele aparece). Tantas coisas a gente pode aprender no vão das palavras de Carlos Castaneda e dom Juan Matus, um feiticeiro yaqui com a sabedoria do infinito. Não custa tentar aprender numa caminhada até o cemitério, antes que carreguem a gente pra lá.
1. O mundo que a gente vê é uma ilusão. A realidade fica atrás do muro. Que tal ter a coragem de pular?
2. Há uma diferença entre ver e olhar. A gente vê com o coração e ganha um pedacinho do céu. Ou olha com a ambição e ganha todo o Inferno.
3. Para ser gente não é preciso ficar contando a própria história pessoal. Se ela é pessoal, para que ficar contando? Quem apaga essa história descarrega um peso inútil e ganha a leveza da liberdade.
4. É bom a gente aprender que nada é certo e a vida é uma aventura emocionante onde ninguém sabe o que existe atrás da próxima moita.
5. Para que se levar tanto a sério ou se julgar tão importante? Assim é que a gente se separa desse misterioso universo onde o Sol passa humildemente todos os dias. E isso é realmente sério e importante.
6. Gente que fala com árvores e plantinhas do caminho não é gente louca. Elas sabem mais do que a gente o que a gente é. Que tal uma conversinha com elas de manhã?
7. Toda a impaciência acaba quando a gente pede conselhos à própria morte. Ela é a única e real companheira, diante de todas as mesquinharias da vida.
8. Num fim de tarde, no crepúsculo, a gente compreende melhor os mistérios do mundo. É bom compreender, antes que o Sol se ponha.
9. O vento tem poderes que a gente não pega com as mãos, mas com o espírito desperto.
10. Quando se fica na rotina, enredado nos mesmos hábitos e caminhos, fica mais fácil para a má sorte pegar a gente.
UMA BOA NOTÍCIA
A Prefeitura de São Miguel Arcanjo reabre o coreto.
Isso significa música na cidade todos os sábados à tarde. E música é a única linguagem em que Deus entende a gente.
Se Joaquim Maestro fosse vivo iria correndo dar um abraço em quem teve a idéia e um monte de abraços em quem subir no coreto, não importa se num sábado em Sol Maior ou em Sol Menor.