terça-feira, 28 de setembro de 2010

29 de Setembro. Dia de nosso Guerreiro Amoroso

Guerreiro, mas amoroso.
Nunca vi quando era menino sua espada cotucar nem de leve Joaquim Maestro se a banda desafinasse ou saísse do compasso.
Lá no andor, Ele fingia que nada ouvia e a procissão seguia tropeçando, porque havia pedras no meio do caminho, no meio do caminho também havia vira-latas, mas Ele nunca espetou com sua espada o rabo de nenhum.
Guerreiro, mas amoroso, Ele nunca castigou menino que soltava buscapé na frente da Igreja e que fazia velha desprevenida pular segurando a saia, pra ninguém ver as partes que ainda pegavam fogo.
Os bêbados da praça Ele sempre deixou dormirem em paz.
E das mãos dos loucos Ele tirava com cuidado os tijolos e as pedras.
Guerreiro, mas amoroso, Ele nunca impediu que as mulheres perdidas --- e que chamavam de mulheres da vida --- acompanhassem a procissão. E elas pareciam santas.
Do seu andor, a luz azul do amor descia serenando e serenava almas pecadoras e elas ficavam leves, voavam até o céu que cada um tem bem dentro de si e os passarinhos cantavam entre as badaladas dos sinos da Igreja.
Ele, guerreiro, mas amoroso, protege uma cidade. E talvez só espere uma coisa dos que o seguem em procissão: que façam dessa cidade uma cidade guerreira, mas amorosa.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

QUARENTENA DE SÃO MIGUEL ARCANJO III

Agradeço, São Miguel Arcanjo, por começar a entender um pouquinho dessa luz de Deus.
Eu agora quase sei que Deus é uma luz sem fim.
Eu agora quase sei que, atrás de Deus, estão as trevas também sem fim.
Quando Deus, por sua vontade, volta-se para as trevas, uma porção de luz se espalha e a pesada escuridão de nossa origem se desfaz.
E é na escuridão que mais se teme a Luz de Deus. E os demônios se encolhem.
Grato, São Miguel Arcanjo, por descobrir que eles se encolhem no íntimo jamais sondado de nós mesmos. O fundo de nossas almas é o fundo do Inferno, o abismo onde nos escondemos.
Os demônios sempre se multiplicaram no mesmo lugar: dentro de cada um de nós. Formaram ali uma legião e ali fogem da luz de Deus.
Mas, se a luz de Deus nenhum de nós suporta, alguém a conduz em ondas suaves e com boas e justas mãos.
Quem apanha a luz de Deus na própria fonte e a conduz até as trevas mais distantes?
Eu agora começo a saber quem é. Eu acho que quase sei: é São Miguel Arcanjo.
Grato, por essa luz que nos livra da mínima existência e nos abre os olhos para o alto, para além de todas as montanhas.
(Do livro Sob as Sombras do Bem e do Mal, de Miguel Arcanjo Terra)