segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

2.010. O ANO DE TAPICHI. NÚMERO 43



"SENHOR PREFEITO, SENHORES VEREADORES DE SÃO MIGUEL ARCANJO:

Antes que todos os senhores fossem, eu já era.
Eu fui Tapichi.
Durante meio século eu fui o mendigo Tapichi.
É com ch que se escreve , não com x.
Tapichi significa nonato e nonato significa feto encontrado no ventre de uma vaca morta ou de mulher pobre e desconhecida.
Senhor Prefeito, senhores Vereadores: o que eu venho pleitear é uma estátua ou um busto em minha homenagem, em qualquer ponto da cidade de São Miguel Arcanjo.
Entendam, senhores, que não há nenhuma vaidade nesta pretensão, já que em alguns lugares belos e amorosos do mundo cachorro vira monumento para glorificar a humildade.
E é a humildade que eu quero engrandecer, o único gesto humano que pode salvar nossa Terra a partir de 2.010.
Ninguém, em São Miguel Arcanjo, sabe de onde eu vim --- e os que sabiam já se foram.
Eu viu de onde estou agora.
E é daqui, sempre eterno, que eu posso contar um segredo para os senhores.
Vivi anos e anos como mendigo em São Miguel Arcanjo em obediência à vontade de Deus.
A minha missão era serenar o coração das pessoas, com estas tarefas que Deus me passou:

1. Ser o dono generoso de todos os cães vadios e abandonados e dormir com eles nas calçadas.
2. Não ficar pouco tempo nem demorar muito no mesmo lugar.
3. Estender as mãos, todos os dias, com a esperança de alguém a apertar num cumprimento amigo, sem medo.
4. Tomar um banho de chuva com meninos magrinhos de peito nu.
5. Não bajular os ricos e poderosos nem menosprezar os mais pobres e humildes pelo medo de se tornar um deles.
6. Acompanhar sempre as procissões de São Miguel e outros santos, mas nunca carregar o andor para estar entre os eleitos.
7. Jamais deixar defunto pobre passar uma noite num velório sem ninguém.
7. Permitir que uma criança triste pela miséria humana atire com suas últimas forças uma pedra, só para se vingar das injustiças e sorrir um pouco.
8. Não condenar aquele amor que as mulheres vendem em casas e esquinas, mas revelar o outro amor, que não se compra nem se vende, para que suas almas não pesem tanto.
9. Correr com as crianças pobres atrás de varas de rojão e cair com elas a catar sonhos no chão.
10. Comer um pedaço de pão como se fosse a primeira e última vez.
11. Cantar baixinho, uma tarde por ano, para os mortos do cemitério.
12. Cantar alto, uma vez por ano, para os mortos da cidade.
13. Amar a vida como um cego, não pelo que se vê, mas pelo que se sente.
14. Dançar, no largo da matriz, com a música da banda ou com a música dos anjos, que poucos ouvem.
15. Colher uma laranja madura, nascida por si mesma, a esmo, sem dono, e agradecer: Grato, meu Deus.
Senhor Prefeito e Senhores Vereadores:
Foram tantas as tarefas que páro por aqui. Não quero aborrecer ninguém.
Só espero que os senhores entendam, aceitem e aprovem minha petição.
Não falei ainda com Deus, mas acho que ele vai gostar.
Os passarinhos também.
Respeitosamente, Tapichi ( O mendigo eterno)."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

FAÇA DE CONTA QUE É NATAL. ANO 1. NÚMERO 41

O DESAMOR A SÃO MIGUEL:

SUA HISTÓRIA VIRA PÓ

QUE O VENTO CARREGA


Ailton Sewaybricker, que é uma das estrelas do Cruzeiro do Sul, e Orlando Pinheiro, dois são-miguelenses como eu, vêem nossa casa cair e lamentam muito. Eu, também. Na nossa casa viviam o Luís Valio, o Calixto João, o padre Chico, a Izabel Terra, o Fouad, o Harif.
Nossa casa era cheia de histórias. Nela se falava muito mal do demônio e muito bem de São Miguel Arcanjo. E as crianças se encantavam diante de suas portas ou abaixo de suas janelas.
Em nossa casa nasceu o futuro de uma cidade.
Mas, o futuro, quando é um filho ingrato, mata a própria mãe, que é a história.
Ainda é possível salvar?
Depende do amor filial de quem governa a cidade.
Mas, como eles são políticos, fica um certo medo. É que, infelizmente, quase todos destróem a história, porque a história só carrega heróis. E poucos políticos chegam a tanto.


CASAL DE SÃO MIGUEL

BATE UM RECORDE


Zeco e Lúcia.
Uma bela dupla caipira.
Gente bonita do sítio.
E os dois merecem entrar no Guiness pelo recorde de produtividade: 15 filhos!
Zeco tem pouco mais de 40 anos. Lúcia, um pouco menos.
O casal e os 15 filhos apareceram numa reportagem do Jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, uma prova de que gente de São Miguel Arcanjo não costuma brincar em serviço, muito menos quando apagam a luz.
E Papai Noel como é que fica numa hora dessas?
Seria bom saber do próprio Papai Noel se ele não precisa de ajuda. E se for preciso alguma coisa, ajudar um pouco não custa nada.
Talvez o Prefeito, talvez o Padre, talvez você e eu possamos homenagear com um pequeno presente essa família de São Miguel Arcanjo que é um exemplo de produtividade e união.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

SEMANA DO PUM. DE 9 A 16 DE DEZEMBRO. ANO 1. NÚMERO 40


O AQUECIMENTO GLOBAL
COMEÇOU EM SÃO MIGUEL ARCANJO COM
O PUM DAS VACAS
Havia uma velha estufa em São Miguel Arcanjo, onde fica hoje o clube Bernardes Júnior. Mas não foi lá que começou o Efeito Estufa.
Joaquim Maestro já dizia, a fumar na janela seu cachimbo da tarde, que o mundo iria acabar com um peido (desculpem essa palavra grosseira, mas se o Presidente fala merda na TV, eu posso falar peido, que é muito mais leve).
Nestor Fogaça concordava com Joaquim Maestro e pensou até, numa das vezes em que foi Prefeito, em proibir peidos em lugares públicos, como o cemitério em dia de grandes enterros, o campo de futebol, a piscina do Abdala Jabur, o Largo da Matriz (e também atrás da Igreja). E seriam severamente penalizados os que liberassem seus gases durante as procissões (Missa, nem pensar).
Mas, não havia amparo legal para Nestor Fogaça e os peidos explícitos (que se ouvem) e os implícitos (silenciosos) continuaram a subir pelos ares, sem que o Vento do Mar os dissipasse.
Mas, o problema maior não era a flatulência de senhores e senhoras respeitáveis ou de gente mal-educada.
O Pum das vacas é que enchia mais o ar de gases.
De Pilar do Sul, já se avistava a nuvem de dióxido de carbono a crescer sobre São Miguel Arcanjo.
Foram convocados os criadores de vacas leiteiras para resolver o problema, que não se resumia só no cheiro, mas também na falta de ar. Compareceram Benedito Terra, Chico Rosa, Tiago França e Anibal Coelho, entre outros.
Todos ouviram a sugestão de Nestor Fogaça para tapar o buraco das vacas dez horas por dia. Apesar de certa estranheza, houve concordância geral, com uma ressalva: o horário do tapa-buraco não poderia ser generalizado, já que havia algumas diferenças.
As vacas de Dito Terra, segundo ele mesmo disse, soltavam Puns das 4 às 7 horas da manhã.
As do Tiago França preferiam a noite.
O Chico Rosa, que também tocava uma padaria no Largo da Matriz, nem sabia em que horário suas vacas ventavam e poluiam o ar.
O Anibal Coelho jurava nunca ter reparado numa coisa dessas, porque há bom tempo andava meio surdo e com sinusite.
Assim, as vacas, em sua santa ignorância, continuaram a peidar livremente e começava em São Miguel Arcanjo o efeito estufa e o aquecimento global, que se espalharam pelo mundo meio século depois.
E o planeta pode acabar assim: Pum!!!