Ela cantava a mesma dor da santa mulher que tirou o véu com que cobria a cabeça e o entregou a Jesus, para que enxugasse seu rosto sangrado de amor a caminho do Calvário.
E a face de Jesus ficou no lenço para nunca mais ser esquecida.
Verônica. Santa Verônica.
Irene era nossa Verônica que cantava de dor. A dor do desamor.
A voz doída de Irene era o triste sinal de que almas afoitas esqueceriam a virtude para serem virtuais.
E o "Alô, como vai você" (Irene era telefonista) viraria três linhas de palavras abreviadas pela preguiça de ser gente e pela pressa de se desfazer das mensagens. A mesma pressa de quem envia, com a mesma preguiça de ser gente.
Nós, os mensageiros do fim do amor e de nós mesmos, não vamos sentir a dor da paixão de Irene nem a dor que é feita de suor e lágrimas no Calvário que é preciso percorrer para ser eterno e virtuoso. E não virtual e descartável.
Cante em paz, Irene.