1. Darcy Ortiz era o maior entre os mais bem dotados da Paróquia. E começou a namorar a filha de um imigrante japonês, que logo foi alertado sobre o risco e tamanho das desproporções. Preocupado, chamou Darcy para uma conversa, mais ou menos assim:
--- Brasil muito grande, né? Brasil não cabe no Japão. Japão pequenininho, né?
E o namoro acabou.
2.
Ele estava de férias em São Miguel Arcanjo, depois da mudança para São Paulo. As primeiras férias do Ginásio.
Sábado à noite, no largo da Igreja, ele girava feliz pelos olhares correspondidos da garota para quem sempre passou invisível nos tempos de Grupo Escolar. Talvez morar em São Paulo lhe desse agora um ar assim de gente importante.
Ia começar a sessão de cinema. O porteiro Pedro Ortiz, um homem santo, mas um santo bravo, já conferia os ingressos.
Ela e suas amigas chegaram antes dele. Mas, ela o esperou no escurinho do cinema, separada das amigas, e o acompanhou para se sentar a seu lado.
O coração dele batia forte, a dois por quatro. Mas, logo se amansou quando as mãos dela tocaram seus cabelos e ali ficaram.
Ele sentiu o amor do mundo desabar sobre sua cabeça.
Mas, ainda no meio dos trailers, ela pediu desculpas por precisar ficar junto das amigas e foi embora.
Ele ficou a sonhar, sem ligar para o filme.
Ao voltar para a casa dos avós, ainda a sonhar, ele passou as mãos sobre os cabelos. Queria reviver o afago das mãos dela. E, então, chorou. Um choro doido, mas escondido.
Ela havia grudado em seus cabelos uma bolota de chiclete. Uma imensa e cruel bolota de chiclete mascado.
O nome dela? Carmem.
O dele? Ah, não conto.
A marca do chiclets? Adams.