quarta-feira, 29 de abril de 2009

NÃO CUSTA NADA ESTE QUERER

Abilia Monticelli era casada com Joaquim Maestro. Os dois já se misturaram à Luz aí de cima.
Ela veio de longe, lá pelos lados da Sicília, na Itália, com uma paradinha em Capão Bonito. Todas as manhãs, ainda sob o sereno da madrugada, ela já estava no quintal, sob as laranjeiras, a querer, um nada querer:
Senhor:
No silêncio deste dia que amanhece, quero paz, sabedoria e força.
Quero contemplar o mundo com os olhos cheios de amor.
Quero compreensão, mansidão e prudencia.
Quero ver o bem em cada um.
Quero que não chegue a meus ouvidos e nem saia de minha boca nenhuma calúnia.
Quero bondade e alegria.
Quero meu espírito cheio de bençãos.
Quero sentir em mim a Sua Presença.
Amém.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O TEMPO PASSA

Os dois no banco da praça. Relógio da Igreja parado.
--- Que horas são?
--- Nove horas.
--- Que horas são?
--- Dez horas.
--- Que horas são?
--- Onze horas.
--- Que horas são?
--- Meio-dia.
--- Já??? Vamos embora que é hora do almoço e já conversamos demais.

AVE, AVE, AVE...


As mulheres na procissão cantavam com muita devoção.
--- Ave, Ave, Ave Maria... Ave, Ave, Ave Maria...
Abilia Monticelli --- baixinha, simpática e esperta --- cantava também, ao lado da comadre Maria. Mas, estava distraida, inquieta. Não tinha conferido na véspera o resultado do jogo do bicho, queria saber, apostava sempre. Como perguntar no meio da procissão? Ela achou um jeito: mudou os versos do hino. E cantou:
--- Comadre Maria, que bicho que deu?
E a comadre respondeu, cantando também:
--- Ave, Ave, Avestruz... Ave, Ave, Avestruz...


domingo, 26 de abril de 2009

SÓ A SAUDADE SALVA A GENTE

Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo
Depois de tanto tempo,
ele voltou e pediu:
Não feche as cortinas. Deixe a Torre da Igreja na janela. Quem sabe a Lua também passa esta noite por aqui. Só mais uma coisa: para dormir, quero um pouco desse sereno do seu olhar.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

NO MEIO DO TRANSITO DE SÃO PAULO

Desconsolado, aflito, ele falou sozinho:
---Tem hora que dá uma vontade de pisar em bosta de vaca.

TAPICHI, O MENDIGO ETERNO

Dizem que Tapichi, o mais célebre mendigo da paróquia de São Miguel Arcanjo, ficou louco porque não conseguiu responder uma pergunta que fez para si mesmo e que não saia de sua cabeça:

A FLOR É UMA BORBOLETA QUE POUSOU NO JARDIM OU A BORBOLETA É UMA FLOR QUE VOOU?
(Não tente responder, para não virar Tapichi)

CASA AMARELA

Tela de Wilson Souza
NUMA CASA AMARELA, PERTO DA ESTRADA PARA CAPÃO BONITO, VIVIAM A CARULA, A LUZIA E TANTAS OUTRAS MULHERES.
ELAS VENDIAM AMOR.
QUEM NÃO COMPROU, MORREU DESAMADO.

NAMORADOS: DUAS HISTORINHAS


1.
Darcy Ortiz era o maior entre os mais bem dotados da Paróquia. E começou a namorar a filha de um imigrante japonês, que logo foi alertado sobre o risco e tamanho das desproporções. Preocupado, chamou Darcy para uma conversa, mais ou menos assim:
--- Brasil muito grande, né? Brasil não cabe no Japão. Japão pequenininho, né?
E o namoro acabou.
2.
Ele estava de férias em São Miguel Arcanjo, depois da mudança para São Paulo. As primeiras férias do Ginásio.
Sábado à noite, no largo da Igreja, ele girava feliz pelos olhares correspondidos da garota para quem sempre passou invisível nos tempos de Grupo Escolar. Talvez morar em São Paulo lhe desse agora um ar assim de gente importante.

Ia começar a sessão de cinema. O porteiro Pedro Ortiz, um homem santo, mas um santo bravo, já conferia os ingressos.
Ela e suas amigas chegaram antes dele. Mas, ela o esperou no escurinho do cinema, separada das amigas, e o acompanhou para se sentar a seu lado.
O coração dele batia forte, a dois por quatro. Mas, logo se amansou quando as mãos dela tocaram seus cabelos e ali ficaram.
Ele sentiu o amor do mundo desabar sobre sua cabeça.
Mas, ainda no meio dos trailers, ela pediu desculpas por precisar ficar junto das amigas e foi embora.
Ele ficou a sonhar, sem ligar para o filme.
Ao voltar para a casa dos avós, ainda a sonhar, ele passou as mãos sobre os cabelos. Queria reviver o afago das mãos dela. E, então, chorou. Um choro doido, mas escondido.
Ela havia grudado em seus cabelos uma bolota de chiclete. Uma imensa e cruel bolota de chiclete mascado.
O nome dela? Carmem.
O dele? Ah, não conto.
A marca do chiclets? Adams.

EU QUERO TANTO DE TÃO POUCO

Eu quero ser o trovão de uma tarde de verão.
Quero ser o dragão que um dia vai apagar seu fogo nas águas do Guapé.
Quero o cheiro da terra molhada de chuva.
Quero me estender como filho mais velho sob as sombras de uma árvore mãe.
Quero ser o bambu de beira de estrada sacudido pelo vento da manhã.
Quero ter na testa uma estrela do mar.
Quero ser o feijão com arroz da Tia Tereza.
Quero a suavidade do sereno da madrugada.
Quero estar entre os grisalhos, de testa larga, com muito branco nos olhos, próximo do Infinito.
Postado por terrasempreterra às
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terça-feira, 7 de abril de 2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

DA PARÓQUIA DE SÃO MIGUEL PARA O MUNDO

Caio, Júlia, Flávio. Eles estão aprendendo com São Miguel Arcanjo que um vento leve e persistente pode influenciar o mundo.

Do sábio Joaquim Maestro (Joaquim Ortiz de Camargo)


O céu e a terra mudam e se transformam.
O santo e o sábio os acompanham.
No céu há imagens suspensas que revelam a sorte e o infortúnio.
O santo e o sábio as compreendem.