Moreno forte, um tanto engordurado, assim era o velho Odilon, mais conhecido que Graham Bell, inventor do telefone e que morreu de susto com a visão que teve em sonho de uma mulher nua na tela de um celular.
Odilon inventou o bolinho de frango, mas não morreu com a visão de um hamburguer. Nem teve indigestão. Morte natural.
Odilon ficava ali entre São Miguel Arcanjo e Itapetininga, um lugar chamado Gramadinho e ninguém sabe por quê. Nunca se viu grama por lá e o pó da estrada de terra pintava de
vermelho a capela, as sobrancelhas de moças na janela, a careca dos velhos sem chapéu e os bolinhos de frango que sobravam no balcão.
Gramadinho não era de São Miguel e muito menos de Itapetininga.
Gramadinho era de Gramadinho e muita gente que se achava grã-fina e vinha de Itapetininga torcia o nariz quando passava por perto.
Não dá para entender agora o bolinho de frango virar patrimônio cultural de Itapetininga, como decidiu a Camara de Vereadores.
O bolinho de frango tem um dono só, o Odilon de Freitas, e virou bolinho de todo mundo que passa com fome em beira de estrada.
Outra coisa: bolinho de frango virar patrimônio cultural é de fazer Nhô Bentico(*) se levantar no túmulo e bater o pó dos ossos desconsolado.
(*) Nhô Bentico ou Abilio Victor foi um grande jornalista, poeta e radialista de Itapetininga. Lembrem-se de Pitoco:
"Pitoco era um cachorrinho que eu ganhei do meu padrinho numa noite de Natá..."