segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

TAPICHI, O MENDIGO ETERNO. ÀS VEZES, ELE APARECE.

--- É você mesmo quem eu estou vendo?

--- Eu quem?

--- Tapichi! Você não é o Tapichi?

--- Desculpe, mas não respondo pergunta de bêbado.

--- Pelo amor de Deus, você é ou não é o Tapichi?

--- Bem, já que você insiste, eu sou o Tapichi.

--- Meu Deus do céu, ai, que eu bebí demais. Ai, que você já morreu.

--- Só morre quem é bocó. Quem não é bocó, continua no mundo a acender estrelas apagadas, igual a quem acende vela em procissão. Mas, se e é pra tremer de medo, volto agora mesmo lá pra cima.

--- Não, não! Fique Tapichi! Quero saber de umas coisas. Tudo bem?

--- Tudo, já que só bêbado me vê e é bom que assim seja porque ninguem acredita em conversa de bêbado e eu fico em paz.

--- Por favor, diga Tapichi: o que você acha do Góes?

--- Góes? O diácono? Ele está bem demais com o pessoal lá das alturas. Só ouvi elogios sobre o presépio que ele montou. E tem até anjo com inveja da imagem de São Miguel Arcanjo que ele talhou em madeira.

--- Jura, Tapichi?

--- Não juro e nunca jurei na vida. Só jura quem é falso e mentiroso.

--- Outra coisa, Tapichi: como é que você fala tão bem agora, se antes só resmungava?

--- Eu resmungava, mas sabia tudo. E quem falava tudo, não sabia nada. Agora falo claro porque você está bêbado e vai esquecer a conversa. E com licença que vou voltar lá pras alturas de Deus. Dê um abraço no Góes e fale que se ele precisar de algum conselho, que peça pra mim e lave bem a orelha direita, que é lá que eu vou falar quando ele estiver dormindo.

(Imagens cedidas pelo Jairinho Costa)

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