--- Eu quem?
--- Tapichi! Você não é o Tapichi?
--- Desculpe, mas não respondo pergunta de bêbado.
--- Pelo amor de Deus, você é ou não é o Tapichi?
--- Bem, já que você insiste, eu sou o Tapichi.
--- Meu Deus do céu, ai, que eu bebí demais. Ai, que você já morreu.
--- Só morre quem é bocó. Quem não é bocó, continua no mundo a acender estrelas apagadas, igual a quem acende vela em procissão. Mas, se e é pra tremer de medo, volto agora mesmo lá pra cima.
--- Não, não! Fique Tapichi! Quero saber de umas coisas. Tudo bem?
--- Tudo, já que só bêbado me vê e é bom que assim seja porque ninguem acredita em conversa de bêbado e eu fico em paz.
--- Por favor, diga Tapichi: o que você acha do Góes?
--- Góes? O diácono? Ele está bem demais com o pessoal lá das alturas. Só ouvi elogios sobre o presépio que ele montou. E tem até anjo com inveja da imagem de São Miguel Arcanjo que ele talhou em madeira.
--- Jura, Tapichi?
--- Não juro e nunca jurei na vida. Só jura quem é falso e mentiroso.
--- Outra coisa, Tapichi: como é que você fala tão bem agora, se antes só resmungava?
--- Eu resmungava, mas sabia tudo. E quem falava tudo, não sabia nada. Agora falo claro porque você está bêbado e vai esquecer a conversa. E com licença que vou voltar lá pras alturas de Deus. Dê um abraço no Góes e fale que se ele precisar de algum conselho, que peça pra mim e lave bem a orelha direita, que é lá que eu vou falar quando ele estiver dormindo.
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