
"SENHOR PREFEITO, SENHORES VEREADORES DE SÃO MIGUEL ARCANJO:
Antes que todos os senhores fossem, eu já era.
Eu fui Tapichi.
Durante meio século eu fui o mendigo Tapichi.
É com ch que se escreve , não com x.
Tapichi significa nonato e nonato significa feto encontrado no ventre de uma vaca morta ou de mulher pobre e desconhecida.
Senhor Prefeito, senhores Vereadores: o que eu venho pleitear é uma estátua ou um busto em minha homenagem, em qualquer ponto da cidade de São Miguel Arcanjo.
Entendam, senhores, que não há nenhuma vaidade nesta pretensão, já que em alguns lugares belos e amorosos do mundo cachorro vira monumento para glorificar a humildade.
E é a humildade que eu quero engrandecer, o único gesto humano que pode salvar nossa Terra a partir de 2.010.
Ninguém, em São Miguel Arcanjo, sabe de onde eu vim --- e os que sabiam já se foram.
Eu viu de onde estou agora.
E é daqui, sempre eterno, que eu posso contar um segredo para os senhores.
Vivi anos e anos como mendigo em São Miguel Arcanjo em obediência à vontade de Deus.
A minha missão era serenar o coração das pessoas, com estas tarefas que Deus me passou:
1. Ser o dono generoso de todos os cães vadios e abandonados e dormir com eles nas calçadas.
2. Não ficar pouco tempo nem demorar muito no mesmo lugar.
3. Estender as mãos, todos os dias, com a esperança de alguém a apertar num cumprimento amigo, sem medo.
4. Tomar um banho de chuva com meninos magrinhos de peito nu.
5. Não bajular os ricos e poderosos nem menosprezar os mais pobres e humildes pelo medo de se tornar um deles.
6. Acompanhar sempre as procissões de São Miguel e outros santos, mas nunca carregar o andor para estar entre os eleitos.
7. Jamais deixar defunto pobre passar uma noite num velório sem ninguém.
7. Permitir que uma criança triste pela miséria humana atire com suas últimas forças uma pedra, só para se vingar das injustiças e sorrir um pouco.
8. Não condenar aquele amor que as mulheres vendem em casas e esquinas, mas revelar o outro amor, que não se compra nem se vende, para que suas almas não pesem tanto.
9. Correr com as crianças pobres atrás de varas de rojão e cair com elas a catar sonhos no chão.
10. Comer um pedaço de pão como se fosse a primeira e última vez.
11. Cantar baixinho, uma tarde por ano, para os mortos do cemitério.
12. Cantar alto, uma vez por ano, para os mortos da cidade.
13. Amar a vida como um cego, não pelo que se vê, mas pelo que se sente.
14. Dançar, no largo da matriz, com a música da banda ou com a música dos anjos, que poucos ouvem.
15. Colher uma laranja madura, nascida por si mesma, a esmo, sem dono, e agradecer: Grato, meu Deus.
Senhor Prefeito e Senhores Vereadores:
Foram tantas as tarefas que páro por aqui. Não quero aborrecer ninguém.
Só espero que os senhores entendam, aceitem e aprovem minha petição.
Não falei ainda com Deus, mas acho que ele vai gostar.
Os passarinhos também.
Respeitosamente, Tapichi ( O mendigo eterno)."
São Francisco de Assis, assim como Tapichi foi um desses mendigos, nunca quis os louros que seus seguidores lhe impuseram e isso vale para Kark Marx também, assim como para Ernesto Guevara de La Serna, que podendo ter vida melhor, optaram pela pior. E assim fizeram porque tinha que ser feito assim. Nem Francisco Bernardone quis que sua ordem fosse a dos franciscanos como dizemos hoje, mas a ordem dos frades menores, nem Mrax quis ser chamado de marxistas como já o faziam quando este ainda vivia entre nós, mas preferia o termo do materialismo histórico ou ainda Socialismo Científico e nem Che quis prender-se ao cotidiano de governar um Estado como pretendia Fidel, mas deu sua vida para que Cuba acontecesse em outros lugares do mundo e da América Latina. Muitos os seguem, poucos os entendem e a grande maioria sequer os aceita, mas é por isso mesmo que são eternos, que sempre a juventude com sede desses mistérios de Deus.
ResponderExcluirHá do verbo haver e não a, artigo, corrigindo a postagem anterior. Onde lê-se marxistas, retire-se o s.e Mrax, leia-se Marx.Kark leia-se Karl. Coisas de escrever num computador com a paixão da mendicância que vive em nossas almas. Todos somos um pouco mendigo, pena que muito pouco.
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